Alto Sertão e Itabaiana têm barragens revitalizadas pelo Pró-Campo do Governo do Estado

Programa de Recuperação de Barragens pretende revitalizar 20 médias e 1.000 pequenas barragens em municípios em situação de emergência pela estiagem

Depois dos quase 37 anos de construída, a barragem do Perímetro Irrigado Poção da Ribeira, do Governo de Sergipe, está recebendo uma obra de limpeza e desassoreamento. O grande reservatório, além de ser usado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) para irrigar 466 propriedades agrícolas, fornece água ao abastecimento urbano em Itabaiana, Campo do Brito, Macambira e São Domingos. Simultaneamente, as máquinas do Programa de Recuperação de Barragens, via Programa Pró-Campo, já atuam em Porto da Folha. Concluíram as obras em dois e trabalham em um terceiro reservatório médio, enquanto também revitalizaram 30 pequenas barragens.

Pelo programa, a Cohidro atende municípios em estado de emergência devido à estiagem e visa ampliar a capacidade de acúmulo da água das chuvas em barragens de múltiplos usos, mas principalmente à dessedentação animal. Desde 2012, já foram recuperadas quase 2.000 barragens de médio e pequeno porte. Neste ano, contando com o aporte de R$ 4.910.772,90 em recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Funcep), pretende atender 20 de médio porte e 1.000 pequenas barragens.

Os povoados porto-folhenses de São Domingos e Lagoa do Rancho já tiveram suas médias barragens de médio porte recuperadas. A próxima, com obras em execução, é em Lagoa da Volta. Ainda naquele município, 30 pequenos barreiros nos povoados São Judas Tadeu e Girassol foram limpos e ampliados pelo programa.

A barragem João Alves Filho, instalação que faz parte do perímetro da Ribeira, apesar de ter capacidade de acumulação de 16.500.000m³, está com seu volume útil bem próximo do seu estágio de emergência em segurança hídrica. Como forma de recuperar a capacidade original do reservatório para prevenir que uma crise hídrica não volte a acontecer nos próximos anos e ameace, inclusive, o abastecimento humano, a barragem também foi inserida pela Cohidro em seu Programa de Recuperação de Barragens.

Secretário de Estado da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), Zeca da Silva explica que, além de inédita, a obra ocorre em grande escala, para dar o ritmo necessário para terminar antes das chuvas de inverno. “É uma obra que desde a construção da barragem, há 37 anos, não acontecia. Esse serviço de desassoreamento da barragem é extremamente necessário, se percebe muito material acumulado ao longo dos anos. A Cohidro vem fazendo este serviço em toda a barragem, por todos os lados. Agora é esperar que São Pedro mande chuva, que nos próximos dias a barragem estará preparada para acumular ainda mais água”, informou Zeca da Silva.

Presidente da Cohidro, empresa vinculada à Seagri, Paulo Sobral revela que a intenção é retirar o máximo possível de material assoreado. “Para que o espaço ocupado por este material seja revertido em acumulação de mais água, atendendo a toda a comunidade. Abastecimento urbano e irrigação”. Ele acrescenta que o Governo do Estado já fez investimentos anteriores em prol da segurança hídrica daquele perímetro. “Nos dois perímetros de Itabaiana, o Programa Águas de Sergipe investiu mais de R$ 14 milhões na troca de todo sistema de irrigação para um modelo que pode economizar cerca de 50% de água de irrigação e energia elétrica. Nos últimos três anos, intensificamos a fiscalização do uso irregular e dos desvios nas tubulações de água. Inclusive punindo usuários com corte no fornecimento”, apontou o presidente.

João Domingos é um agricultor irrigante que cultiva coentro, batata-doce e amendoim no perímetro da Ribeira. “Depende do período. No inverno a gente produz milho para fazer silo para o gado”, acrescentou. Sobre as obras de desassoreamento da barragem, ele considera muito importante. “Não só eu como todos os produtores. Só vê o produtor chegando e olhando. Muitos não acreditavam. É de grande importância essas máquinas trabalhando aí, esse investimento. A gente precisa de mais armazenamento e mais água. Colocando mais água na barragem vai ser bom demais para todo mundo. Deus ajude que continue irrigando como vinha antes, porque quando ela estava cheia, não faltava água para o produtor,” recordou.

 

Milho verde dos festejos juninos está garantido pela irrigação pública do Estado

Irrigação do milho e outras culturas ainda está sendo possível na maioria dos perimetros irrigados da Cohidro

Sergipe, no campo, correu para plantar e suprir a demanda do milho verde para os festejos juninos, quando é tradicionalmente consumido cozido in natura, ou como base para diversos pratos típicos. O produto só pôde ser plantando na maioria das lavouras a partir de meados de março, quando se deram as primeiras chuvas de 2017. O mesmo não ocorreu nos perímetros de irrigação pública do Governo do Estado, onde é possível colher antes ou depois do São João, independente do que ‘manda’ São Pedro.

Embora as chuvas tenham faltado no ano passado, e isso esteja hoje prejudicando a irrigação em alguns desses polos irrigados, essa possibilidade de cultivo do milho, independente do que permite a meteorologia, ainda está sendo possível na maioria dos perímetros estaduais administrados pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro). Só na unidade de Lagarto, a 69km de Aracaju, quando as chuvas chegaram em março, já eram 25,63 hectares (ha) plantados, o que vão gerar, passando 80 dias, 387.525 espigas de milho verde, para entrar junho com o alimento na mesa dos sergipanos.

Gildo Almeida Lima, gerente do Perímetro Piauí da Cohidro em Lagarto, acompanha os produtores de milho e fala do que muda na produção quando é possível contar com irrigação no lote. “Totalmente diferente né? A gente cultiva, fora de época, vários tipos de produção, de produto. Como o milho verde agora. Esse aqui foi plantado na época de estiagem e já está na fase de colheita”, assinalou visitando a área plantada pelo agricultor irrigante José Roberto de Jesus.

No lote de 4ha de José Roberto, 2,64 estão ocupados com o milho plantado há 70 dias, já bem perto da colheita, que acontece depois dos 80. Embora tenha água para plantar o ano todo, prefere seguir a tradição. “Porque a gente planta no dia de São José. É que quando em São João, ele está maduro, ‘tá’ pronto para comer. Garante a festa com pamonha e canjica. A produção está boa e as vendas, pelos preços, acreditamos que estejam melhor de que o ano passado”, disse o produtor, que tem oferta de compra, para toda a lavoura, de R$ 0,50 a espiga no pé.

Técnico Agrícola da Cohidro no Perímetro Piauí, José Américo explica que o preço praticado na maioria das plantações irrigadas é feito com o milho no pé, ou seja, é pago o valor pelo número de espigas arrancadas na lavoura, mas quem arca com o custo de colheita é o comprador. Segundo ele, os fatores climáticos influenciaram uma grande alta de preços do produto. “Subiu mais de 10% e a tomada de preço, no ano passado era de R$ 0,40 e hoje é R$ 0,50, por cada espiga”, afirmou.

Fatores climáticos
Embora a irrigação pública pela Cohidro, transponha a necessidade de chuvas para plantar, os perímetros irrigados ‘guardam a água da chuva’ em barragens para então ser usada o ano inteiro. Água que vem de rios e tirando o São Francisco, responsável por abastecer o Perímetro Califórnia, em Canindé de São Francisco (213Km de Aracaju) e o Platô de Neópolis (121km de capital), todos os outros cinco têm sua perenidade dependente da pluviosidade que ocorrer em Sergipe. Deste modo, 2016 foi um ano atípico, de baixíssima precipitação em todo estado e fez com que a irrigação tivesse que ser racionada e em certos casos, já em 2017, interrompida. Segundo o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Rural da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, isso prejudicou a produção tanto do milho como de outras culturas.

“O ano de 2016 foi um ano com dificuldade de chuva e com isso, nós sofremos com o armazenamento de água nas barragens, principalmente em Jacarecica I (em Itabaiana, 54km da capital) quando a partir de janeiro de 2017 nós tivemos que paralisar totalmente a operação. A Ribeira (Itabaiana), que é uma barragem importantíssima para produção de alimentos para o estado de Sergipe já estamos fazendo racionamento e torcendo para que as chuvas aconteçam e volte a reabastecer a sua bacia hidráulica e com isso possamos continuar irrigando. E Jacarecica II (abrangendo Malhador, Riachuelo, Areia Branca e distante 49km de Aracaju), que é a nossa maior barragem, por enquanto não temos racionamento mas sofreu uma grande redução do seu volume hídrico e a princípio, não exige risco de paralisação”, esclareceu João Fonseca.

Presidente da Cohidro, José Carlos Felizola ainda exalta o fato de os irrigantes tenham maiores chances de continuar garantindo sua renda no campo, mesmo com a estiagem prolongada. “Com a seca que se abateu em nosso Estado, só pôde plantar o milho, antes da chuva, quem faz parte de projetos irrigados. Isso põe nossos irrigantes à frente na comercialização, faz com que o seu produto chegue mais cedo no mercado, melhorando a condição de venda. Além de que, quando plantam perto do São João, têm a certeza de que haverá água para fazer crescer as plantas, a colheita é certa”, avaliou.

Otimismo
José Raimundo Simão e Fontes e outro produtor irrigante do Perímetro Piauí. Ele plantou seu milho há 50 dias, em uma área de 0,82ha. Ele aproveitou da irrigação pública para também investir na produtividade e diminuição de custos com mão de obra, eliminando o processo manual de adubação pós-plantio. Para tal, utiliza mangueiras de gotejo alimentadas por um sistema de ‘fertirrigação’, onde os nutrientes necessários ao desenvolvimento da planta vão diluídos na água de irrigação. Para o agricultor, dispor de milho para vender antes dos produtores convencionais, que plantam no sequeiro, ajuda muito na rentabilidade do cultivo. “Tem quadro que em São João é melhor e antes de São João é melhor ainda”, justifica.

José Roberto já plantava antes de adquirir um lote no Perímetro Piauí e para ele, a mudança é grande. “Antes era mais complicado, porque não tinha irrigação, a gente esperava o período da chuva. Hoje, com a irrigação, a gente já pode plantar antes de São José, já vai molhando, tem água o suficiente, já facilita a colheita, mais”. No calendário popular do nordestino, o 19 de março é a data mais propícia para ocorrer a primeira chuva de inverno, molhar a terra e então iniciar o plantio do milho colhido para o São João. Para o produtor, a irrigação cria autonomia e gera mais produtividade. “É, exatamente, não necessita tanto da chuva. Fica mais independente para o agricultor. Sempre melhora a produção, sempre dá espiga melhor. Fica bonito, não é?”.

“Com relação ao plantio de milho, a época é propicia nesses perímetros que ainda temos água para fornecer para a irrigação, a exemplo de Lagarto, a exemplo da própria Itabaiana, na Ribeira e em Canindé de São Francisco. Nós temos uma produção de milho que irá atender na época junina à população do Estado de Sergipe”, conclui o diretor João Fonseca. Ele ainda expõe que no ano passado foram 765ha cultivados com o milho verde em todos os polos irrigados administrados ou gerenciados pela Cohidro, incluindo o Platô de Neópolis, o que gerou uma produção de 3.888 toneladas.

Última atualização: 16 de outubro de 2017 09:17.