Irrigantes da Cohidro vão produzir galinha orgânica no Alto Sertão

Mutirões

Após conquistarem a “Declaração de Cadastro de Produtor Vinculado à OCS (Organização de Controle Social)”, para produzirem e comercializarem produtos agrícolas sob a denominação de “orgânicos”, os irrigantes pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) no Perímetro Irrigado Califórnia, estão diversificando sua produção com a introdução da “galinha de capoeira”,criada pelo sistema agroecológico e com a orientação técnica da Empresa em Canindé de São Francisco.

Eles fazem parte da Associação Sergipana de Orgânicos (BIO5) e da OCS que foi oficializada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no último dia 28 de agosto. A partir dessa regulamentação, os agricultores ficam autorizados à comercialização dos produtos orgânicos que plantam, por meio da venda direta ao consumidor, ou pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Companhia de Nacional de Abastecimento (Conab) e ainda através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), este gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A novidade surgiu quando o grupo inicial de cinco produtores – o qual motivou o nome fantasia “BIO5” para a associação – acolheu uma sexta integrante: Valdenice de Jesus Meneses, que com o marido, Thiago dos Santos Araújo, já tinham uma concepção agroecológica de produção, no manejo das aves criadas no fundo do quintal. “A alimentação delas era feita com milho, restos de culturas, restos de frutas. Também colocava na água de beber o limão, alho e arruda, para previr doenças, isso o tempo todo, não esperava aparecer a doença para usar”, conta a agricultura que influenciou os demais integrantes da BIO5. Agora todos usam da experiência dela, associada a novas tecnologias que estão buscando, para diversificar a produção orgânica.

Capacitação

Evento anual promovido pelo Instituto Federal de Sergipe (IFS) – Campus São Cristóvão, a III Semana de Agroecologia foi realizada de 19 a 22 de agosto, teve a participação dos agricultores da BIO5, assistindo palestras, debates e participando de minicurso sobre avicultura orgânica. O grupo também tem ido conhecer outras áreas de produção de galinha de capoeira, através de intercâmbios técnicos no Perímetro Piauí da Cohidro, em Lagarto. Também fizeram visitas a produtores de Ribeirópolis e Olho D’Água do Casado, em Alagoas, sob a coordenação dos técnicos da Companhia.

O Gerente do Perímetro Califórnia, Edmilson Bezerra Cordeiro, conta que o sucesso das ações desenvolvidas é fruto de um trabalho integrado da equipe da Cohidro e dos agricultores. “Objetivando qualificar esses agricultores na atividade orgânica, de forma que eles enxerguem sua área agrícola como um empreendimento rural, a Empresa vem buscando parcerias com oferta de capacitações que atendam a demanda dos agricultores familiares e o apoio da Secretaria Municipal da Agricultura de Canindé, que está contribuindo na realização de algumas demandas dos agricultores, fortalecendo com isso as atividades do grupo“, informou.

Para a gerente de Desenvolvimento Agropecuário da Cohidro, Sônia Loureiro, este interesse dos agricultores por qualificação é consequência do trabalho de assistência técnica executado pela Cohidro. “Em cada perímetro colocamos um técnico especificamente para acompanhar as atividades diárias durante a fase de implantação das unidades produtivas, como na elaboração de receitas de produtos alternativos para combater pragas e doenças, preparação de compostos, biofertilizantes, práticas de conservação de solo, implantação das barreiras vivas. Este resultado está sendo muito gratificante, só me faz ver que aquela semente da agroecologiaque plantamos em Canindé, já faz algum tempo, frutificouna BIO5”,numerou Sônia.

Benfeitorias

Iniciando pela criação de galinhas de Valdenice de Jesus como projeto piloto, a BIO5 está promovendo mutirões para construção dos piquetes que serão usados para a produção de frangos em ambiente controlado, como explica o técnico agrícola da Cohidro, Tito Reis, que acompanha e orienta o grupo. “Na propriedade de Valdenice serão quatro piquetes de 1.080 metros quadrados cada, onde haverá um abrigo circular coberto para a dormida das aves e outras quatro coberturas menores para abrigar os cochos. Cada piquete terá capacidade para 550 galinhas, mas buscando o conforto e acesso farto ao alimento, só irão ser postas 100 aves por piquete”, relata.

Por se tratar de uma produção orgânica, estão sendo buscadas alternativas sustentáveis para as instalações, como a utilização de bambu nas cercas que dividem os piquetes e nos abrigos, mas a adaptação acontece também com anutrição das aves. “Nos cercados vai ser plantado capim para auxiliar na alimentação das galinhas, que já era baseada em milho e restos culturais do cultivo orgânico da propriedade. Uma área irrigada com milho orgânico já está preparada. A intenção é utilizar só dois dos quatro piquetes por vez, enquanto um recebe as aves, que se alimentam do pasto, o outro estará em período de repouso, fazendo a troca de piquete a cada 30 dias”, complementa Tito Reis.

Segundo os estudos feitos pelo grupo, vai levar de quatro a cinco meses para as aves crescerem até o abate, tempo muito superior dos até 39 dias que leva um frango de granja.Isso está relacionado pela não opção por raças melhoradas e técnicas que priorizem somente o ganho de peso, a exemplo do uso de aviários climatizados e ração enriquecida com aditivos químicos industriais.“Mas não vamos dispensar as tecnologias, eu mesmo faço a produção de pintinhos usando a chocadeira e vou criar – a partir de agora – as galinhas em cercados para poder controlar melhor o que elas comem e facilitando o recolhimento do esterco orgânico, que vai ser usado na horta”, esclareceu a produtora Valdenice.

Valor agregado

Por si só, a galinha rústica, de quintal, já oferece vantagens popularmente aceitas em relação àquela de granja comercial – de postura ou de engorda – seja pelo sabor mais acentuado ou pela rigidez, cor e textura do produto. Mardoqueu Bodano, presidente da Cohidro, considera este diferencial algo fundamental no projeto da BIO5. “Todos sabem que o frango e os ovos de capoeira são bastante requisitados pela clientela e até permitem que o seu valor de venda seja superior aodos produzidos em escala industrial. O que os produtores da BIO5 querem é oferecer alimentos que reúnam todas as vantagens já culturalmente reconhecidas na criação caipira, associada à segurança do produto orgânico, autenticada pela OCS formada por eles”, opinou.

Presidente da BIO5, Marli Soares dos Santos Pereira, disse que os outros cinco produtores da Associação e pertencentes a OCS estão entusiasmados com o projeto que teve início na criação de Valdenice. “Até agora a gente só produzia e vendia hortaliças e frutas, mas queremos ampliar nossa oferta com agalinha orgânica e de capoeira, criada com técnicas sustentáveis e sem aditivos químicos. A gente está confiando muito na produção, usando métodos agroecológicos e com os pastejos rotativos.A certidão da OCS ajudará muito, a gente vai ter como dizer que é orgânico na hora de vender, por um preço mais justo, porque só a palavra não convence”, justificou Marli.

Última atualização: 18 de dezembro de 2017 10:17.