Alunos do IFPE fazem visita técnica ao perímetro da Cohidro pela quinta vez

Roberto Ramos da Cohidro explica a rotina do perímetro Califórnia aos estudantes pernambucanos (foto Ascom Cohidro)

Pelo quarto ano consecutivo, estudantes do curso técnico em Meio Ambiente do Campus Garanhuns do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) tiveram, nesta segunda-feira (3), aulas práticas sobre a gestão de recursos hídricos e meio ambiente, nas dependências do Perímetro Irrigado Califórnia, administrado pela Companhia e Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro). Lá, eles não dispõem de um projeto de irrigação ao porte do sergipano, mas existe a necessidade de estarem aptos em trabalhar com essa tecnologia agrícola que contrapõe o clima nordestino. Isso faz com que o modelo implantado pelo Governo do Estado em Canindé de São Francisco há 30 anos, sirva de base para o conhecimento.

A principal atividade executada pelos alunos é orientada pelo professor e doutor em Engenharia Agrícola Rogério Oliveira de Melo, da disciplina de Gestão de Recursos Hídricos e consiste em aplicar métodos científicos para mensurar a vazão do canal de irrigação principal do Califórnia, ou seja, identificar o quanto de água chega por minuto nas subestações do perímetro e vão parar nos lotes dos agricultores irrigantes. “A gente se preocupa em abordar uma série de aspectos, desde os aspectos legais de gerenciamento do recurso, como também a parte mais voltada às questões técnicas que a determinação de vazão. É o forte dessa parte técnica da disciplina Gestão de Recursos Hídricos”, destacou.

São vários os aspectos elencados pelo professor Rogério, que fizeram com que o perímetro da Cohidro fosse contemplado nesta, que já é a quinta visita técnica. “A gente vive numa região bem interessante no que se refere a disponibilidade hídrica, que é Garanhuns, mas com relação ao canal de irrigação, essa realidade que a gente vive aqui em Canindé de São Francisco, a gente não encontra. Então trazer eles aqui nessa parte que eu julgo muito importante e muito interessante, que é aprender a determinar uma vazão em um canal de irrigação e adicionalmente a isso, vivenciar a realidade do projeto Califórnia. A Eliane e o Roberto, são bem receptivos e naturalmente isso acabou influindo”, complementou. Na continuação da viagem, o grupo pernambucano esteve no Viveiro Florestal de Xingó, projeto da Chesf em Piranhas-AL e na sequência, o complexo de usinas hidroelétricas e a estação de piscicultura de Paulo Afonso-BA.

Segundo o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, as técnicas que os estudantes foram aprender no Califórnia têm aplicabilidade na gestão e manutenção do perímetro. “Para eles que vêm de outro estado, quando forem trabalhar com sistema de irrigação parecido com o nosso, principalmente quando ele for ser introduzido, é importante saber a quantidade de água disponibilizada para poder estabelecer o tamanho da área que poderá ser irrigada durante o período em que este sistema estiver funcionando. Para nós, se faz necessária essa mensuração periodicamente, isso inclusive mede a eficiência do sistema e pode identificar possíveis falhas, como vazamentos durante o percurso, que não são visíveis a olho nu”, justifica.

A visita ao campo foi guiada pelo técnico da Cohidro, Antônio Roberto Ramos, que faz um retrospecto completo do que acontece lá, a função do perímetro irrigado e no que ele reflete no cotidiano do último município do Alto Sertão Sergipano. O clima Semiárido presente em Canindé, que encontrou no Califórnia uma solução pontal à escassez de chuva, também é presente no estado de onde vêm os estudantes Saber de que forma ocorreu a introdução deste projeto e como ele ainda se desenvolve depois de 30 anos, são informações que dão embasamento para até outras disciplinas do curso técnico em Meio Ambiente, como é o caso dos professores Mayara Dalla Lana, Engenheira Florestal e o Emmanuel Freitas, Tecnólogo em Gestão Ambiental, que acompanharam também o grupo de estudos e respectivamente lecionam ‘Recuperação de Áreas Degradadas’ e ‘Estudo de Impacto Ambiental’.

“Quando fazemos o estudo de impacto ambiental e o respectivo clima, sempre se busca a viabilidade ambiental do empreendimento. Aqui é um exemplo de que vai se gerar um impacto ambiental, mas existe um custo benefício importante para sociedade. E aí essa a viabilidade ambiental e que ela deve ser buscada e alcançada no processo de licenciamento, equilibrando os benefícios com a mitigação (da seca) e a compensação dos impactos ambientais. Então, os meninos têm nesse momento uma vivência do custo benefício. Muita gente acha que o licenciamento ambiental é um entrave, mas ele é um meio de utilizarmos adequadamente, de maneira que a gente possa minimizar os impactos, mitigar o que precisar ser mitigado, compensar o que não for possível mitigar e tentando achar um equilíbrio nisso. Essa é a grande chave da boa política pública ambiental nessa área”, discorreu o professor Emmanuel.

Esta viabilidade ambiental logo foi identificada pela aluna do IFPE, Inês Alessandra Alves de Melo, satisfeita com a visita feita ao Califórnia. “A gente está achando muito interessante, porque o projeto visa ajudar as pessoas. Então, saber que esse trabalho está indo adiante, tem prosperidade e que vem incentivando as pessoas a visitar, para ver como é bom esse projeto, é uma experiência sensacional”, avalia. Para ela, que está no quarto e último ano do curso integrado e que logo entrará no mercado de trabalho, a visita vai refletir no seu currículo da profissional. “Vai ajudar, porque a gente trabalha sobre vazão, sobre os recursos hídricos. Eu acho essencial para o meu curso, porque como técnico do meio ambiente é meu dever saber disso e dessas propriedades da natureza”.

Campo de pesquisas

Diretor João, a gerente Eliane, o presidente Carlos Melo, no campo experimental de uvas do irrigante Levi Alves, abastecido pela água dos canais da Cohidro (Foto Ascom Cohidro)

O diretor-presidente da Cohidro, Carlos Fernandes de Melo Neto, acredita que os perímetros irrigados são um amplo espaço de pesquisas para diversos ramos do ensino técnico. “É fundamental a preparação de novos técnicos capazes de diagnosticar a situação em que se encontra um sistema de irrigação e seus impactos ambientais. Eles ficam mais preparados para trabalhar com a irrigação em larga escala, como é a nossa, que só em Canindé tem sete estações de bombeamento (EBs), compreendendo 63 bombas e atendem 333 lotes, irrigando 3.190 hectares.  Estão de parabéns os mestres que identificaram o nosso perímetro para campo de estudo. São mais de 30 anos em plena atividade, levando a água do São Francisco até os agricultores, produzindo uma média anual de 40.000 toneladas, beneficiando quase de 1.400 pessoas”, complementa.

Para Weslei Bezerra do Nascimento, do quarto ano subsequente do técnico em Meio Ambiente do IFPE, essas visitas técnicas são uma complementação à teoria. “É interessante, porque a prática sempre acaba mostrando a realidade do que a gente aprende em sala de aula. Então, sempre acrescenta no aprendizado e com certeza uma viagem é uma experiência única que a gente leva para vida toda”. O estudante, que logo vai se formar, a partir da vivência no curso, faz planos de que em área poderá atuar em breve. “Eu penso em fazer consultoria, geoprocessamento mesmo, é uma coisa que me chama bastante atenção. E essa área de recuperação de área degradada e estudo de impacto ambiental, é uma das minhas preferidas. Apesar de que, se aparecer uma oportunidade de concurso, eu não abro mão de tentar também”, considera.

Gerente do Califórnia, Eliane de Moura Moraes, garante que ocorrem atividades contínuas de educação técnica e pesquisa agrícola no perímetro. “Temos hoje três campos experimentais, em lotes de irrigantes, aonde a Embrapa Semiárido (Petrolina-PE) aplica suas pesquisas, em um convênio de transferência de tecnologia que visa implantar aqui o cultivo de uva e pera. Ao mesmo tempo, o Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) ‘Dom José Brandão de Castro’, em Poço Redondo-SE, tem requisitado os lotes do perímetro para fazer aulas práticas e é aqui também o lugar que hoje absorve o maior número de estágios do curso técnico em Agropecuária da instituição de ensino”, conclui

 

Última atualização: 5 de novembro de 2018 09:44.