Orgânicos em Lagarto recebem práticas extensivas para avaliar qualidade de solo

IFS – São Cristóvão faz aulas práticas no Perímetro Irrigado Piauí beneficiando produtores  
Produtores participam de coleta de solos e aprendem mais de como fazer periodicamente a amostra de solo – foto Fernando Augusto (Ascom-Cohidro)

Produzir alimentos a partir do método orgânico, ou seja, sem a adoção de defensivos agrícolas industriais que possam oferecer algum risco de contaminação ao solo, a água, ao trabalhador e o próprio alimento; tem sido um desafio à agricultura familiar. Principalmente porque geralmente são lavouras que migraram do método convencional, onde antes a solução de qualquer problema passava pelas bulas agroquímicas. São unidades produtivas que não foram iniciadas, às vezes pelos seus pais e avós, pensando na Agroecologia como o diferencial do produto que vão oferecer no mercado.

Buscar soluções alternativas aos agrotóxicos requer muito do conhecimento prático do agricultor, do ‘errar para poder acertar’, mas não dispensa a ajuda do meio acadêmico-científico. Principalmente quando se tem por perto um corpo docente de especialistas nessa nova área dos saberes, como é o caso do curso superior tecnológico em Agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS-SE), que funciona em seu campus de São Cristóvão, há 26 km da capital. A instituição tem utilizado de seu expediente de preparação dos novos ‘agroecólogos’, aplicando atividades acadêmicas em áreas produtivas de muito potencial, mas que requerem bastante atenção diante do histórico de intensa produção agrícola por métodos convencionais: os perímetros irrigados.

Mais uma destas ‘aulas práticas’ se deu no dia 6 de março no Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) em Lagarto, município distante 75 km de Aracaju. Desta vez, o trabalho de estudo foi na coleta de amostras de solo, para a análise laboratorial de seus componentes, buscando encontrar soluções agroecológicas às deficiências minerais que farão falta à planta que for ali semeada. Para tal, foram escolhidos seis lotes de agricultores já consolidados na produção orgânica e integrantes de uma Organização de Controle Social (OCS), grupo formado desde 2010 e que conquistou, junto ao Ministério da Agricultura (MAPA), a autorização para comercialização do orgânico diretamente com o consumidor ou em programas governamentais de compra da produção agrícola familiar.

Quem organizou a visita acadêmica aos lotes do ‘Piauí’ foi a professora e doutora em Ciências Sociais Gleise Prado da Rocha Passos. Seus alunos coletaram cerca de 10 amostras de solo, há 10 cm da superfície, em cada uma das seis propriedades. As 10 partes de terra, obtidas uma em cada ponto diferente das áreas de plantio, foram então misturadas para que seja feito o diagnóstico homogêneo da situação do lote. “Depois, estas serão analisadas pelo Laboratório de Solos do IFS, coordenado pela Professora Liamara (Perin)”. Ainda segundo a especialista, este foi só um primeiro trabalho de campo, que vai se estender em atividades que renderão novas idas ao perímetro. “Pretende-se realizar uma ação de extensão rural. Num segundo momento retornaremos para ministrar oficinas pedagógicas sobre as culturas adequadas aos diferentes tipos de solo”.

Redução de custos
Para a doutora em Solos, Liamara Perin, “a agroecologia busca aumentar os níveis de matéria orgânica nos solos pela aplicação de adubos orgânicos, que são em sua maioria resíduos, mais completos nutricionalmente”, ensina. Ela terá a missão de emitir o parecer das amostras de solo retiradas dos lotes orgânicos do perímetro irrigado e justifica, do ponto de vista econômico, a necessidade da realização dos testes laboratoriais também na produção orgânica. “A realização da análise de solo permite ao agricultor conhecer o nível de fertilidade do seu solo e adubar apenas o necessário. Dessa forma, buscará aumento de produtividade evitando gastos com aplicação de adubos sem necessidade”.

Redução de custos na produção agroecológica corrobora com o que diz o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, ao justificar as dificuldades encontradas por estes produtores. “Aos poucos isso está mudando, mas quem se dispõe a consumir o produto orgânico ainda está concentrado nos grandes centros urbanos, distantes do produtor. Fazer o produto chegar lá diminui do retorno financeiro que eles conseguem, intensificado com o percentual de perdas de safras que é muito maior, quando não se pode usar agrotóxicos. Contrapondo a isso, temos feito um trabalho para criar novos mercados, a partir de campanhas e eventos de apresentação deles às comunidades do local onde produzem”, explicou.

Já o presidente interino da Cohidro, Jorge Kleber Soares Lima, considera fundamental esse apoio oferecido pelo IFS-SE, colaborando com as equipes da própria empresa. “Nossos engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas foram responsáveis por muitos casos bem-sucedidos de conversão à agricultura orgânica. Temos até o exemplo do produtor Delfino Batista, que tanto compramos seus alimentos semanalmente aqui em nossa sede, como também o indicamos para as feiras especializadas realizadas por outros órgãos. Mas ainda existe muita gente que optou pelos orgânicos e que requer um acompanhamento extra ao que nós damos aos mais de 2.000 lotes que provemos irrigação e assistência. É muito bom poder contar com este apoio dos acadêmicos. Serão sempre muito bem recebidos em nossos perímetros nessa intenção de ajudar”.

Delfino Batista do Nascimento, que vive exclusivamente da produção orgânica há 8 anos, há tempos já aderiu ao uso da análise de solos em sua propriedade. Como os estudantes precisam diferenciar o certo do errado, também foram coletadas amostras de seu lote. “Aqui pelo menos é bom, porque fica sabendo como está nosso solo, direito, e aí nós vamos trabalhar com a recomendação que vem de lá. Quase todo ano, eu faço. Igual ano passado, eu fiz, sempre faço análise de solo. Só coloca a adubação recomendada”, orienta o produtor que disse que enquanto estiver dando certo os resultados do laboratório, vai continuar fazendo deste modo.

Vizinho de fundo de Delfino está o lote do seu irmão, Raimundo Batista Nascimento. Incentivado pelo exemplo na família, começou na prática orgânica depois e diz ainda ter dificuldades para investir na conversão da produção convencional – que ele utilizou por mais de 30 anos – para a que usa os métodos agroecológicos. “Rapaz, vai ser muito bom, porque a gente não está tendo esse acompanhamento. Vocês fazendo isso para gente, a gente agradece muito, porque é um incentivo muito grande e nós preparamos mais o nosso terreno, fica bem melhor”, considerou. Incentivado pela prática dos alunos, ele aguarda os resultados laboratoriais do seu solo e a orientação técnica de como aplicará isso em sua lavoura. “Tenho intenção de fazer por conta própria, se vocês ajudarem a gente, vamos agradecer muito”.

O graduando Jonathas Bruno Santos, que já foi estagiário da Cohidro e conhecem bem o perímetro, talvez seja um dos principais responsáveis pela sua classe ter escolhido o ‘Piauí’ para a realização das aulas práticas que, embora culmine numa avaliação físico-química das amostras de solo, está sendo realizada a partir de uma disciplina acadêmica das Ciências Sociais. “Através da Extensão Rural, visamos contribuir para a elevação da qualidade de vida das famílias dos produtores rurais. O objetivo é o de realizar um dia de campo em Extensão Rural, juntamente com os produtores orgânicos assistidos pela Cohidro”, descreveu.

Última atualização: 2 de abril de 2018 07:53.